terça-feira, 25 de março de 2008

Cajuína!!!

Cajuína

Caetano Veloso

Existirmos: a que será que se destina?
Pois quando tu me deste a rosa pequenina
Vi que és um homem lindo e que se acaso a sina
Do menino infeliz não se nos ilumina
Tampouco turva-se a lágrima nordestina
Apenas a matéria vida era tão fina
E éramos olharmo-nos intacta retina
A cajuína cristalina em Teresina

Existirmos a que será que se destina?

Ouvia Caetano cantar Cajuína e já achava lindo! Como se pudesse escutá-lo dizendo: Isto é lindo! rs. Mas um dia, numa entrevista, fiquei sabendo que ele tinha composto a música num momento de muita dor, porque tinha perdido um amigo, que havia se suicidado e foi visitar o pai deste rapaz em Teresina. Ele, Caetano, chorava, o pai do rapaz o consolova. E a música que já me tocava tanto ficou ainda mais forte. Porque entendi tudo o que ela queria dizer.


Eu sou uma pessoa completamente contra bairrismos! Hoje torcia para uma moça nordestina num programa de TV. Bobagem a minha torcida? O programa? Acho que não! Sempre levantam questões importantes até os programas com as pessoas com pouco conteúdo como num BBB, mas esta moça também mostrou no programa...que não tão facilmente "se turva a lágrima nordestina", outra parte muito linda desta canção de Caetano. Lembro de Gonzagão cantando...."quando olhei a terra ardendo, como a fogueira de São João, eu perguntei a Deus do céu, porque tamanha judiação."



Belas canções sobre o nordeste, sobre a forte alma nordestina. Lamentei que a moça que me pareceu ser a mais "cristalina" não tenha ganho!



Lamento, porque sei que muito vem do preconceito!



Lamento por existirem bairrismos!



E viver ao que será que se destina? Será que a tentar superar as diferenças, as desigualdades, as dificuldades?



Mas sei que os que mais sofrem...são muitas vezes os que mais conseguem consolar...como foi o que inspirou Caetano nessa música. Caetano também compôs: "Gente é para brilhar, gente é para ser feliz." E é nisto que quero sempre acreditar!


P.S. Tanto os gaúchos, catarinenses, paulistas, mineiros...todos têm o seu valor. Seja Vidas Secas de Graciliano Ramos, seja O Tempo e o Vento de Érico Veríssimo. Eu acho o paradoxo da beleza do nordeste com a sua miséria tocante como é tocante a trajetória do capitão Rodrigo. Quando a minha alma está seca é nas águas das poesias nordestinas que eu muitas vezes me banho. E se precisar de um vento eu recorrerei a Érico, sem problemas. Porque a obra inteligente transcende regiões. E identificações, não significam exclusões.